Dores nas costas após horas passadas em frente ao computador, ansiedade por conta da pressão de prazos e volume de tarefas, resfriados recorrentes porque a imunidade anda baixa. E a lista continua: estresse, cansaço, aumento de peso. Essas são algumas das queixas mais frequentes de quem trabalha no mundo corporativo.
A última Pesquisa Nacional de Saúde disponível, realizada em 2013 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que 17,8% das faltas no trabalho são por conta de resfriado ou gripe, 10,5% por dor nos braços ou nas mãos e 4,7% por dor de cabeça. Encontrar soluções para melhorar o quadro de saúde e o bem-estar dos funcionários, portanto, torna-se interesse direto das corporações.
“É preciso entender que os cuidados com a equipe vão muito além dos exames ocupacionais”, diz o especialista em gestão de pessoas Marcelo Braga, CEO da Reachr, startup de recrutamento e seleção digital. Ele acredita que o valor gasto com ações preventivas seja um investimento mais do que válido. “Estima-se que a cada dólar investido em prevenção, há um retorno de US$ 4 para a empresa. Esse valor é alcançado devido ao aumento da produtividade e da satisfação pessoal.”
Com a ideia de que prevenir é o melhor remédio, algumas empresas passaram a oferecer atividades e serviços de saúde e bem-estar para os colaboradores no próprio ambiente de trabalho. De acompanhamento com nutricionista e sessões de acupuntura a aulas de ginástica laboral e yoga, os profissionais têm a possibilidade de tratar suas queixas sem precisar se deslocar – e sem ter nenhum custo extra.
A fisioterapeuta Denise Harari teve um “clique” durante uma de suas aulas de ginástica laboral, ouvindo os alunos. “As queixas são multifatoriais, envolvendo desde dores provocadas por movimentos repetitivos até questões psicossociais que afetam diretamente a saúde.”
Idealizadora do programa Trabalhe Bem, Denise passou a realizar uma consultoria ergonômica completa para empresas como a Sonova do Brasil, fabricante de produtos audiológicos: do conforto da cadeira e da altura da tela do computador à postura corporal, tudo é observado e ajustado para melhorar a qualidade de vida do profissional dentro da empresa. O programa também oferece um “pacote bem-estar”, que ajuda a gerenciar dores e estresse, com técnicas de acupuntura não-invasiva, shiatsu, massagens e orientações de exercícios fisioterapêuticos feitos na estação de trabalho. “A adesão às sessões foi de mais de 70% e os funcionários dizem que passaram a ver a empresa de forma mais positiva”, comemora Denise.
A Go.K, empresa de consultoria em inovação digital, também decidiu apostar na fórmula do bem-estar. Desde agosto de 2018 a prática de yoga passou a ser semanal no escritório. “Eu já havia percebido algumas pessoas reclamando de dores de cabeça ou musculares”, recorda Fernanda Oliveira, coordenadora de gestão de pessoas. “A yoga tem estabelecido uma melhor condição física e também de humor para um enfrentamento mais saudável”, analisa. Ronaldo Ribeiro, gerente de projetos da Go.K, atesta a mudança: “Sempre que saímos da aula estamos mais leves e tranquilos, com isso o ambiente melhora muito”.
Para Nathalia Oliveira, que ocupa o mesmo cargo, outra vantagem é as aulas acontecerem na própria empresa. “Acabo não perdendo tempo com locomoção, e o ambiente de trabalho se torna mais leve.” Os dois citam a iniciativa como um gesto de cuidado bem-vindo. “Dá para perceber que estão preocupados com a saúde e o bem-estar dos funcionários”, aprova Ronaldo.
Estilo americano. Em empresas de grande porte, as adaptações ao estilo de vida saudável chegam a ser estruturais. Quando a sede do Mercado Livre foi transferida para Osasco, em 2016, o projeto inspirado nas empresas de tecnologia do Vale do Silício já evidenciava a preocupação com bem-estar: a “Melicidade”, como foi apelidado o espaço, tem quadra poliesportiva de uso livre, restaurante com opções balanceadas no cardápio, sala de massagem, ambiente de descanso com pufes, sofás e redes e uma academia em parceria com a Bio Ritmo 100% bancada pela empresa.
“O ambiente foi criado para oferecer uma estrutura que promove cuidados com a saúde física e mental”, diz Patrícia Araújo, diretora de RH do Mercado Livre no Brasil. Por também incentivarem equilíbrio e flexibilidade entre a agenda profissional e a pessoal, as ações contribuem para o rendimento de alta performance. “O termômetro que mostra a satisfação do colaborador é o ranking da pesquisa GPTW (Great Place to Work), que nos coloca entre as três melhores empresas para se trabalhar na América Latina. Com certeza, fruto direto do conjunto de iniciativas.
Conteúdo por: Estadão